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A dissolução de um relacionamento pode gerar efeitos que ultrapassam a esfera pessoal. Quando envolve sócios ou empresários, a separação pode colocar em risco o patrimônio da empresa e a continuidade das atividades.

Sem planejamento jurídico adequado, questões como regime de bens, avaliação de quotas e confusão patrimonial podem se transformar em litígios complexos e prolongados. Este artigo analisa como o planejamento patrimonial e societário pode evitar que conflitos familiares se convertam em crises empresariais.

Divórcio e Sociedade: o impacto do regime de bens

No Brasil, tanto o casamento quanto a união estável produzem efeitos patrimoniais. Na ausência de pacto ou contrato, aplica-se o regime de comunhão parcial de bens, em que todo o patrimônio adquirido onerosamente durante a convivência é considerado comum — incluindo participações em empresas.

Nos regimes de comunhão universal, a abrangência é total: todo o patrimônio é partilhável. Já na separação total de bens, o patrimônio individualizado de cada sócio é preservado enquanto em vida, porém é partilhado em caso de falecimento, com o cônjuge sobrevivente sendo considerado como herdeiro, não meeiro. A escolha do regime é, portanto, uma decisão jurídica que influencia diretamente a segurança patrimonial de sócios e empresários.

Confusão patrimonial: quando o pessoal afeta o empresarial

A mistura entre bens da pessoa física e da pessoa jurídica é uma das maiores fontes de risco em processos de separação. Pagamento de despesas pessoais com recursos da empresa, aquisição de bens familiares em nome da pessoa jurídica ou uso de bens empresariais para fins particulares podem gerar confusão patrimonial, comprometendo a autonomia da sociedade.

Em casos extremos, a Justiça pode aplicar a desconsideração da personalidade jurídica, atingindo o patrimônio empresarial para satisfazer obrigações pessoais — ou o inverso, no caso da desconsideração inversa.

Empresas familiares são particularmente vulneráveis a essa situação, pois as relações afetivas e profissionais se sobrepõem, e as disputas familiares acabam repercutindo no ambiente empresarial.

O contrato social como ferramenta de proteção

O contrato social é o instrumento jurídico mais eficaz para mitigar os efeitos de uma separação sobre a empresa. Algumas cláusulas podem prevenir litígios e proteger a estabilidade do negócio, tais como:

  • Restrição à cessão de quotas a terceiros, incluindo ex-cônjuges e herdeiros;
  • Critérios objetivos de valuation, para evitar disputas sobre o valor das participações;
  • Formas de pagamento dos haveres, assegurando previsibilidade financeira;
  • Cláusulas de solução de conflitos, como arbitragem e mediação.

Essas previsões funcionam como forma de garantir maior previsibilidade a tais eventos, impedindo que questões familiares comprometam a governança e a continuidade empresarial e que potenciais situações ocorram da forma mais ordenada possível.