A saúde mental no ambiente de trabalho é uma prioridade inadiável para as empresas, especialmente com a ansiedade figurando como a terceira principal causa de afastamento no Brasil. Dados do Ministério da Previdência Social revelam que mais de 128 mil benefícios por incapacidade relacionados a transtornos ansiosos foram concedidos entre 2023 e 2024, destacando os impactos financeiros e culturais significativos, como aumento de absenteísmo e presenteísmo, elevação dos custos com assistência médica, e perda de talentos. Implementar uma abordagem holística em forma de programa corporativo de bem-estar é crucial para promover um ambiente saudável e produtivo. 

Não é de hoje que a saúde mental no ambiente de trabalho deixou de ser uma questão periférica para se tornar um tema central na gestão de pessoas. 

Dados recentes do Ministério da Previdência Social deixam isso concretamente evidente: a ansiedade já é a 3ª principal causa de afastamentos do trabalho no Brasil. 

Entre outubro de 2023 e setembro de 2024, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) concedeu 128.905 benefícios por incapacidade relacionados a “outros transtornos ansiosos”, que incluem condições como ansiedade generalizada e transtorno de pânico. 

Esse número coloca os transtornos ansiosos atrás apenas de dores nas costas (185.843 benefícios) e transtornos de discos intervertebrais (150.066), indicando que problemas de saúde mental são um dos grandes desafios enfrentados pelos trabalhadores e pelas empresas hoje. 

A crescente incidência de afastamentos relacionados à saúde mental tem sérias implicações para as empresas. A ausência prolongada de funcionários, seja por questões de ansiedade, depressão ou outros transtornos psicológicos, gera custos diretos e indiretos significativos: 

  1. Aumento do Absenteísmo e Presenteísmo: O absenteísmo, quando o funcionário se ausenta do trabalho por causa de questões de saúde mental, é facilmente quantificável. Porém, o presenteísmo — quando o colaborador está fisicamente presente, mas incapaz de desempenhar suas funções de forma eficaz devido ao estresse ou outros sintomas — é um problema igualmente sério, ainda que mais difícil de medir. Ambos levam a uma queda na produtividade e afetam o desempenho da equipe como um todo. 
  2. Elevação dos Custos com Benefícios e Assistência Médica: Benefícios por incapacidade concedidos pelo INSS, como o auxílio-doença, são apenas uma ponta do iceberg. Empresas também enfrentam despesas crescentes com planos de saúde, terapias e tratamentos para os colaboradores. Além disso, existe o custo de reintegração, que muitas vezes envolve readaptação funcional e treinamento para o retorno ao trabalho. 
  3. Impacto na Cultura Organizacional e na Retenção de Talentos: Ambientes de trabalho que não conseguem oferecer apoio adequado aos colaboradores acabam sofrendo com uma alta taxa de rotatividade. Colaboradores insatisfeitos ou com a saúde mental fragilizada tendem a buscar novas oportunidades que ofereçam melhores condições de trabalho. Assim, a ausência de políticas de saúde mental pode resultar na perda de talentos valiosos e na dificuldade de atrair novos profissionais. 
  4. Condenações em Ações Trabalhistas: A negligência em relação à saúde mental dos colaboradores pode levar a ações judiciais, com condenações que resultam em custos financeiros elevados. Funcionários que se sentem desamparados ou que enfrentam ambientes de trabalho tóxicos podem processar a empresa por danos morais ou assédio. Essas ações não apenas geram despesas legais significativas, mas também podem afetar a reputação da empresa no mercado, tornando-a menos atrativa para novos talentos e parceiros de negócio. Além disso, condenações judiciais podem resultar em obrigações de indenizações, comprometendo ainda mais os recursos financeiros da organização e sua capacidade de investimento em outras áreas. 

A Necessidade de uma Abordagem Holística

Um programa robusto de saúde mental vai muito além de oferecer suporte psicológico pontual. Não se resume à postura tardia da empresa. Tampouco se confunde com ações apenas no campo médico e/ou de segurança do trabalho. 

Quando se fala em uma abordagem holística, defende-se que um programa robusto de saúde mental deve integrar todas as esferas da empresa, contemplando tanto ações preventivas quanto medidas corretivas e de apoio. 

Nesse contexto, vislumbra-se os seguintes pilares fundamentais para a implementação de um programa eficaz: 

  1. Prevenção e Conscientização: a promoção de campanhas educativas sobre a importância da saúde mental, com foco na redução do estigma é fundamental. Realizar workshops, palestras e sessões de treinamento para todos os níveis da organização ajuda a criar um ambiente de trabalho mais aberto e acolhedor, onde colaboradores se sintam confortáveis para falar sobre suas dificuldades sem medo de represálias. 
  2. Apoio Psicológico Contínuo: a presença de psicólogos e profissionais de saúde mental à disposição para atendimentos regulares e emergenciais é uma medida que demonstra o comprometimento da empresa com o bem-estar dos colaboradores. O suporte deve ser acessível, sigiloso e personalizado para atender diferentes necessidades. 
  3. Flexibilidade e Equilíbrio entre Vida Profissional e Pessoal: uma das principais causas de estresse e ansiedade no trabalho é a falta de equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. Programas de jornada flexível, trabalho híbrido ou remoto e incentivo ao uso adequado de pausas e férias são medidas que ajudam a aliviar a carga emocional e física dos colaboradores. 
  4. Avaliação e Monitoramento Constante: como qualquer outra iniciativa empresarial, programas de saúde mental devem ser monitorados e avaliados continuamente para verificar sua eficácia. Pesquisas de clima organizacional, questionários de feedback e outros instrumentos de avaliação podem ajudar a identificar áreas de melhoria e ajustar ações preventivas. A atuação do compliance e governança é fundamental. 
  5. Envolvimento da Liderança: para fechar, a liderança desempenha um papel crucial na criação de um ambiente saudável e acolhedor. Gestores e líderes de equipe precisam ser treinados para reconhecer sinais de esgotamento, ansiedade e outros transtornos mentais, e devem agir de forma proativa para oferecer apoio. O exemplo dado pela liderança em relação ao autocuidado e à importância da saúde mental encoraja todos na empresa a priorizarem seu próprio bem-estar. 

Além desses pontos, as empresas devem implementar políticas e práticas que promovam um ambiente de trabalho saudável. Isso inclui treinamentos sobre saúde mental, criação de canais de comunicação para que os colaboradores possam relatar problemas e acesso a serviços de apoio psicológico. 

A adesão a essas novas diretrizes não só contribui para a saúde dos trabalhadores, mas também para a construção de uma cultura organizacional mais consciente e responsável. Com a implementação adequada dessas medidas, espera-se que as empresas se tornem ambientes mais seguros e acolhedores, beneficiando tanto os funcionários quanto a própria organização. 

Estratégias de Prevenção de Assédio Moral e Sexual: Garantindo um Ambiente de Trabalho Seguro

Em adição a todos esses outros fatores de um programa de saúde mental, a prevenção do assédio moral e sexual é um aspecto fundamental. 

As empresas devem estabelecer políticas claras contra essas práticas, oferecendo treinamentos regulares para todos os colaboradores sobre como identificar e lidar com situações de assédio. 

A criação de um ambiente de apoio, onde os funcionários se sintam seguros para relatar incidentes, é essencial. 

Programas de sensibilização e comunicação interna também podem ajudar a construir uma cultura organizacional que valoriza o respeito e a dignidade no ambiente de trabalho. 

Com a implementação adequada dessas medidas, espera-se que as empresas se tornem ambientes mais seguros e acolhedores, beneficiando tanto os funcionários quanto a própria organização. 

Benefícios de Investir em Saúde Mental no Trabalho

Investir em um programa robusto de saúde mental traz retornos significativos para as empresas. Algumas das vantagens incluem: 

  1. Aumento da Produtividade: colaboradores que se sentem mentalmente saudáveis são mais motivados, engajados e produtivos. Eles têm um desempenho melhor e contribuem de forma mais eficaz para o sucesso da empresa. 
  2. Redução de Custos com Absenteísmo e Benefícios de Incapacidade: um programa de saúde mental eficaz ajuda a reduzir o número de afastamentos por questões psicológicas, o que diminui os custos com benefícios e licenças médicas. 
  3. Controle do Passivo Trabalhista: a implementação de programas de bem-estar e saúde mental reduz o passivo trabalhista e evita condenações milionárias. 
  4. Melhora na Retenção de Talentos: empresas que demonstram preocupação genuína com o bem-estar dos seus colaboradores conseguem reter talentos por mais tempo. A segurança de saber que a empresa está comprometida com a saúde mental cria um ambiente de trabalho mais satisfatório e confiável. 
  5. Fortalecimento da Marca e da Cultura Organizacional: a reputação corporativa é fundamental. Nesse contexto, adotar políticas de saúde mental bem estruturadas posiciona a empresa como um local de trabalho inovador e empático. Isso fortalece a cultura organizacional e atrai novos talentos que buscam ambientes que respeitem sua qualidade de vida. 

Conclusão

A implementação de um programa holístico de saúde mental não é apenas uma resposta às estatísticas alarmantes de afastamentos por ansiedade e outros transtornos, mas uma estratégia essencial para a sustentabilidade e o crescimento das empresas. 

Um programa com tal dimensão tem o potencial de gerar um ambiente de trabalho saudável e equilibrado, promovendo o bem-estar físico, mental e social dos funcionários. Através de políticas de saúde ocupacional, foco no equilíbrio entre vida pessoal e profissional, e prevenção de assédio, buscamos o desenvolvimento integral de nossos colaboradores. 

Para RHs e Jurídicos, compreender e atuar proativamente nessa área é garantir que a empresa não apenas minimize riscos e custos, mas também fortaleça suas bases humanas e organizacionais, criando um ambiente de trabalho mais saudável, produtivo e alinhado com as demandas contemporâneas. 

 

Autores: 

Luiz Paulo Salomão
[email protected] 

Patrícia Maria Haddad
[email protected] 

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