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Tarifaço de Trump: Riscos e Caminhos para Empresas Brasileiras Diante da Nova Política Comercial dos EUA
04/08/2025



Sobretaxas de até 50% sobre produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos acendem alerta no setor produtivo e podem desencadear uma nova onda de desequilíbrio econômico em cadeia.
O “tarifaço de Trump”, anunciado em 9 de julho, estabelece a aplicação de tarifas adicionais de até 50% sobre diversas mercadorias brasileiras exportadas aos Estados Unidos. A medida, com início previsto para 1º de agosto, afeta itens que já pagavam alíquotas significativas. Por exemplo, o suco de laranja concentrado, que já sofria tributação de US$ 415 por tonelada, passará a ser onerado com mais US$ 207,50 por tonelada, totalizando US$ 622,50. A carne bovina in natura, hoje com alíquota de 26,4%, será tarifada em até 39,6%, enquanto o café industrializado, que já tinha um tributo de 5% a 10%, poderá alcançar uma carga de 15%. Na prática, isso representa um golpe direto na competitividade internacional das empresas brasileiras, que enfrentarão dificuldades tanto em manter seus contratos quanto em repassar os aumentos ao consumidor final americano.
As áreas mais atingidas são aquelas com forte vocação exportadora e tradicional penetração no mercado norte-americano: suco de laranja, café, carnes bovinas e frutas frescas. A cadeia citrícola, em especial, encontra-se em alerta. O Brasil é responsável por cerca de 80% do suco de laranja consumido globalmente, e os EUA representam o segundo maior mercado. O café brasileiro, que exportou cerca de US$ 1,17 bilhão aos EUA apenas no primeiro semestre de 2025, também sofrerá perdas sensíveis. Produtos como manga, uva e carne bovina já registram embarques adiados ou cancelados por importadores temerosos com a elevação abrupta dos preços. Essas reações imediatas demonstram o grau de dependência de alguns setores frente ao mercado americano e revelam sua vulnerabilidade diante de decisões unilaterais.
As perdas estimadas já ganham forma nos relatórios de entidades como a Confederação Nacional da Indústria – CNI, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA e Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (ESALQ/USP) – Cepea. Para o suco de laranja, a distribuidora norte-americana Johanna Foods projeta um acréscimo de até US$ 68 milhões ao ano apenas em custos tributários, que devem refletir num aumento de 20% a 25% ao consumidor final. No café, o aumento da tarifa pode comprometer até 30% da margem líquida das exportadoras brasileiras. A Confederação Nacional da Indústria alerta que o impacto potencial no Produto Interno Bruto – PIB agroindustrial pode ultrapassar R$ 12 bilhões, caso as medidas se prolonguem por mais de um semestre. Já há sinais de retração nas bolsas de commodities agrícolas e movimentação de empresas para buscar redirecionamento logístico e renegociação de contratos, o que denota não só um impacto financeiro, mas também estratégico.
Ainda que o foco das sobretaxas sejam setores diretamente exportadores, os reflexos são amplos e atingem toda a cadeia econômica interligada. Fornecedores de embalagens, fertilizantes, insumos agrícolas, logística e até empresas de serviços administrativos ou tecnológicos ligados aos exportadores sentirão a retração. A quebra de contratos, a redução na produção e o encolhimento do faturamento provocam um efeito dominó que atravessa ramos distintos da economia. Em muitos casos, empresas que não exportam diretamente aos Estados Unidos poderão vivenciar crises agudas apenas por dependerem economicamente de clientes que foram atingidos. Essa interdependência reforça a necessidade de uma abordagem cautelosa e estratégica para manter a sustentabilidade operacional.
Em tempos de instabilidade econômica, a reorganização financeira preventiva torna-se essencial para enfrentar os efeitos colaterais da desaceleração do mercado, dos entraves no fluxo de caixa e da urgência em manter a sustentabilidade das operações. Ferramentas como a renegociação de dívidas, a reestruturação extrajudicial ou mesmo o uso estratégico da recuperação judicial podem ser decisivas para garantir fôlego e estabilidade. Essas medidas permitem às empresas revisar seus compromissos financeiros, proteger a liquidez e reequilibrar suas estruturas operacionais, preservando empregos e ativos. Diante desse cenário, a assessoria jurídica especializada e multidisciplinar assume papel central na identificação de riscos, formulação de soluções sustentáveis e construção de rotas para superação. Embora os desafios sejam significativos, há caminhos seguros e eficazes para transformar a adversidade em oportunidade de adaptação e resiliência.
Thaís Vilela Oliveira Santos
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